Estava em pé segurando com as duas mãos no suporte de cima do ônibus. Parecia que eu estava na 25 de Março em um dia antes do natal de tão apertado. As pessoas se encostando umas nas outras. O pior era que algumas não estavam "cheirando à flores" se é que você me entende. O sol estava quase queimando as plantinhas da calçada. Devia ser por isso aquele odor abusado.
Como sabia que o ônibus demoraria
um pouco para chegar ao meu destino, queria ao menos pegar meu livro de romance
para terminar aquelas duas últimas paginas do capitulo três, mas eu mal
conseguia respirar sem incomodar pessoas, quem dirá me mexer e pegar o livro.
Dane-se. Eu quero ler e ponto. Aos poucos, tirei a mão do suporte, e pedindo
desculpas, a enfiei na bolsa á procura do livro. Por sorte, foi à primeira
coisa que peguei. O livro ajudou também; era a maior coisa que tinha na minha
bolsa.
Até que quando coloquei minha mão
de volta ao suporte e a outra segurando o livro, meus olhos localizaram uma
pessoa desconhecida sentada na primeira cadeira á direita. Um garoto que
aparentava ter seus 18 ou 19 anos. Eu realmente estava tentando me concentrar
no livro, mas aquele olhar dele para a janela me chamava à atenção. Parecia que
o corpo dele estava ali mais a mente dele não.
Alguém tossiu lá atrás. Depois,
outra espirrou. Ou talvez a mesma que tossiu tenha espirrado também. Não
consegui distinguir. O cara da janela parecia gostar de legião urbana. Acho que
era porque ele me lembrava o Paulo Paulista. Imaginei posters colados na parede
do quarto dele. Dei um sorrisinho sem mostrar os dentes. Céus, como sou idiota.
Queria me aproximar dele e pedir
com uma enorme educação para aquela moça sentada ao seu lado para sair de lá. Eu
necessitava descobrir seu nome. Ficaria mais fácil localizar ele nas redes
sociais e conhecer mais sobre ele. Se é que ele tinha. Na me surpreenderia se
ele não tivesse. Ele não tinha cara de quem gosta de sentar o traseiro na
cadeira e ficar atualizando as redes sociais.
Quando tomei coragem para ir ao
seu encontro, mesmo sem quase conseguir sair do lugar, o ônibus parou bruscamente
e ele se levantou, desceu as escadas do ônibus e foi embora. Era o ponto dele.
O meu ainda estava longe. Pude sentir um pedacinho do meu futuro indo embora.
adoro seus textos! parabéns.
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